Jornal Pampulha, de Belo Horizonte, (19/03/2007) publica reportagem sobre transtornos do sono.

Faltando duas páginas para o fim do capítulo de um livro, bate aquele sono... Mas como a história está boa, há uma “luta” para não dormir. Quando acaba a leitura, ao invés de simplesmente fechar os olhos e se desligar do mundo, começa uma outra batalha: conseguir pegar no sono. Situações como essa podem ocorrer com qualquer um. Uma vez ou outra, não causa problemas. 

No entanto, quando não conseguir dormir ou acordar já cansado se torna rotina, é bom ficar atento. Dados preliminares de uma pesquisa patrocinada pelo laboratório multinacional Roche, com 43 mil pessoas no ano passado, revelam que 53,9% da população brasileira apresenta algum tipo de comprometimento na qualidade do sono.

Para alertar sobre o mal, a Academia Brasileira de Neurologia (ABN) realizou, na última quartafeira, 21, o Dia Nacional do Sono, uma campanha de conscientização em Belo Horizonte e mais oito cidades brasileiras. O motivo do alerta está nas consequências de uma má noite de sono. Estima- se que 43% dos brasileiros apresentem sinais de cansaço durante o dia. Dirceu de Campos Valladares Neto, psiquiatra, especialista em medicina do sono e diretor da Clínica do Sono na capital minei, explica a importância de um bom repouso à noite. “Dormir bem é acordar com disposição e ficar animado o dia todo, mesmo nos fins de semana. Não se pode tentar sabotar o sono e, assim, dormir menos durante a semana e compensar no final da semana”, afirma. 

Diagnóstico 

Infelizmente, nem sempre uma noite bem dormida ocorre por vontade própria. Existem vários distúrbios causados pela falta de sono e o mais comum deles é a insônia. “O conceito desse mal é subjetivo, mas em geral, é percebido quando o sono não está adequado. Pode haver dificuldade para iniciá- lo, ou sua fragmentação. O indivíduo acorda várias vezes durante a noite e não consegue mais dormir”, esclarece o psiquiatra.
Além da insônia, outros distúrbios são comuns, especialmente o ronco, que pode ou não estar associado à apnéia (o paciente pára de respirar durante 20 segundos até 1 minuto), e ainda a síndrome das pernas inquietas (quando a pessoa fica “chutando” durante quase toda a noite e, normalmente, acorda com dor nas pernas). É bom ressaltar que nem sempre é fácil descobrir que muitas das queixas de saúde estão relacionadas a algumas dessas doenças. “Dois terços da população revela que já teve alguma queixa relativa ao assunto durante o ano. Sendo que 10% dos brasileiros têm sonolência excessiva durante o dia. A maior parte das pessoas sofre e não sabe. E elas ainda não pesam o preço da questão que o sono ruim provoca”, acrescenta o psiquiatra, que diz que o sono aumenta em 700% o risco de acidente em trabalho. 

 Narcolepsia 


O perigo dessa falta de informação resulta em atrasos de diagnósticos. Foi assim com a estudante universitária Aline Sayonara Gomes, 22. Desde criança, ela teve sono em excesso e passou por médicos de várias especialidades até descobrir que sofre de narcolepsia – sonolência excessiva crônica, que atinge cerca de 0,02% a 0,018% da população. “Se deixasse, eu dormia o dia todo. Como eu estudava, tinha dificuldade de ficar acordada na escola. Também dormia em pé, dentro de ônibus, e até tomando banho. Não podia ficar sozinha que dormia”, revela a estudante, que hoje em dia faz uso de um medicamento para controlar o problema. 

O perigo dessa falta de informação resulta em atrasos de diagnósticos. Foi assim com a estudante universitária Aline Sayonara Gomes, 22. Desde criança, ela teve sono em excesso e passou por médicos de várias especialidades até descobrir que sofre de narcolepsia – sonolência excessiva crônica, que atinge cerca de 0,02% a 0,018% da população. “Se deixasse, eu dormia o dia todo. Como eu estudava, tinha dificuldade de ficar acordada na escola. Também dormia em pé, dentro de ônibus, e até tomando banho. Não podia ficar sozinha que dormia”, revela a estudante, que hoje em dia faz uso de um medicamento para controlar o problema.

Tratamento 

O diagnóstico dos distúrbios do sono é clínico, sendo às vezes necessária a realização de exames. Em relação ao tratamento indicado, Valladares Neto chama a atenção para o uso de medicamentos. “Não caia na tentação de ir tomando remédio logo de início. Hoje, falando de pessoas que vão viver de 90 a 100 anos, é preciso evitar medicação para dormir, pois podem causar efeito colateral e dependência. Também é bom evitar ao máximo as cirurgias para casos como a apnéia”, explica o psiquiatra, que afirma que o tratamento depende da causa do problema.

Não há um padrão para o número de horas que uma pessoa precisa dormir. De acordo com Dirceu de Campos Valladares Neto, psiquiatra, especialista em medicina do sono e diretor da Clínica do Sono, o ideal é se sentir bem.
“A quantidade varia de pessoa para pessoa. Geralmente, fica entre 7 e 9 horas. É importante dormir o necessário para acordar disposto. Quem dorme bem é mais feliz e aqueles que não dormem não podem tirar de si o seu melhor”, relata. 

O jornalista Marco Antônio Vale Gomes, 55, é prova de que uma noite bem dormida é capaz de melhorar o dia-a-dia. Antes de descobrir que sofria de apnéia, achava que tinha um sono ideal. “Eu era bom de cama, de poltrona, de sofá, pois a qualquer hora era só encostar que dormia. Ficava o dia todo com sono”, revela ele, que se considerava preguiçoso. 

Mau-humor 

A situação mudou depois que Eliza, a esposa de Gomes, percebeu problemas em sua respiração, ocorridos durante seus fortes roncos. Após uma série exames, ele descobriu que sofria de apnéia e, hoje, usa um compressor de ar para evitar o ronco e as crises de perda de ar. “Agora, meu rendimento é muito melhor. Até aquele sono terrível depois do almoço acabou. Hoje em dia, sou só bom de cama mesmo”, brinca. É preciso, portanto, ficar atento para descobrir se há ou não alguma distúrbio atrapalhando o seu dia-a-dia.

Compromissos importantes ou problemas podem realmente causar ansiedade e tensão e, consequentemente, insônia. Também é normal quando bate aquele sono depois do almoço, entre as 13h e 15h. Aliás, uma soneca de 15 a 20 minutos é até indicada.  Mas sintomas como cansaço, irritação, mau-humor, estresse, distúrbios de memória e sonolência excessiva ao longo de dias é preocupante. “A pessoa tem que buscar a causa do problema e criar condições ambientais para dormir, como amenizar o calor, ter uma cama confortável, deixar o quarto bem escuro”, afirma. Outro segredo é não exigir de si mesmo que quer e precisa dormir. “É preciso relaxar e saber que não é à força que se traz o sono.”