A questão da sonolência em motoristas pode-se dizer que é um problema de segurança pública, tanto no Brasil, quanto em outros países. No Brasil, faltam estatísticas oficiais, mas alguns dados dão dimensão do problema.

Segundo Dr. Dirceu Valladares, especialista em distúrbios do sono, cerca de 35% dos condutores têm sonolência excessiva e nas grandes cidades, 10% da população sofre de insônia crônica. Além disso, entre 5 e 8 milhões de pessoas têm apneia obstrutiva, (dificuldade de respirar enquanto se dorme), que prejudica o descanso, a qualidade de vida e causa de sonolência diurna.

A Clinica do Sono, com sede em Nova Lima, mostrou como isto acontece em Minas Gerais, em uma pesquisa realizada entre os anos de 1997 e 1998, em que foram entrevistados 639 motoristas de carros de passeio. O objetivo da pesquisa foi o de conhecer o grau de incidência de sonolência em motoristas não-profissionais no Estado. Os resultados, que ainda podem ser considerados atuais, constataram que:

- 55% dos motoristas entrevistados disseram que nunca se envolveram em acidentes de trânsito

- 38% já haviam se envolvido, mas alegaram não ter dormido ao volante.

- 7% admitiram ter dormido ao volante, provocando acidentes.

A análise dos dados, de acordo com o médico e diretor da Clínica do Sono, Dirceu Valladares, mostra que os grupos de acidentados apresentavam, estatisticamente, os mesmos níveis de sonolência, estando ou não conscientes disso, pois a ansiedade e a irritação, entre outros fatores, dificultam a percepção da sonolência.

 

Uma pesquisa realizada em 2004 pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) aponta que 48% dos motoristas de ônibus de linhas interestaduais dormem enquanto estão dirigindo e que a sonolência ao volante é responsável por entre 27% e 32% dos acidentes de trânsito, em que um dos motoristas envolvidos dormiu. O resultado mostra ainda que entre 17% e 19% das mortes no trânsito foram causadas pelo mesmo motivo.

De acordo com levantamentos da Fundação Nacional do Sono dos Estados Unidos, os transtornos do sono são responsáveis por cerca de 20% dos acidentes nas rodovias e naquele país, onde todos os anos cerca de 100 mil acidentes relacionados a veículos são uma conseqüência direta de cansaço/dormir ao volante. Nos EUA, 71 mil pessoas ficam lesadas todos os anos devido a acidentes relacionados a sono; 1.550 pessoas morrem anualmente devido a acidentes relacionados a sono; 46% dos indivíduos com problemas freqüentes de sono relatam faltar ao trabalho ou a encontros, ou ocasionarem erros no trabalho, comparados a 15% daqueles que apresentam um sono saudável.

Isto acontece porque a falta de sono ou sua má qualidade diminui os tempos de reação, piora a concentração, diminui a atenção e prejudica o estado de vigília. É um conjunto de fatores, que pode propiciar acidentes de trânsito. Quem dirige com sono tem grandes chances de cochilar ao volante e colocar em risco a própria vida, a vida dos passageiros e a vida dos transeuntes.

 

Desde 2008, no Brasil, o CONTRAN (Conselho Nacional de Trânsito) exige dos motoristas profissionais que apresentem sintomas de transtorno do sono, quando da renovação da carteira, a realização de exames específicos, como a polissonografia. Apesar disso, a exemplo do que ocorre em outros países, no Brasil pouca atenção tem sido dada ao problema da sonolência excessiva na direção enquanto causa importante de acidentes. 

Geralmente, as causas mais comuns dos acidentes automobilísticos falam sobre as más condições das estradas, a falta de manutenção dos automóveis, ônibus e caminhões. A falha humana, quando citada, versa sobre imprudência (alta velocidade, ultrapassagens proibidas) ou abuso de álcool. Dificilmente toca-se na possibilidade do causador do acidente ter dormido ao volante, apesar da sonolência excessiva não ser um fato raro, já que os distúrbios do sono estão presentes na vida de quase metade da população brasileira. De acordo com uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira do Sono, 43% dos brasileiros não têm um sono restaurador e apresentam sinais de cansaço no decorrer no dia. 

Entre os principais problemas do sono estão as insônias, os distúrbios como apnéia obstrutiva (paradas respiratórias durante o sono), bruxismo, catalepsia e o ronco, que atingem grande parte da população, que acabam levando à sonolência excessiva durante o dia. A sonolência excessiva por sua vez gera repercussões não só do ponto de vista pessoal como social, constituindo-se os acidentes automobilísticos e ocupacionais num dos principais exemplos de suas conseqüências. É importante salientar que, embora existam muitas causas de sonolência excessiva, a maioria tem tratamento conhecido e disponível. 

Os levantamentos epidemiológicos em grupos considerados de alto risco para a SDE, como os motoristas profissionais, permitirão dimensionar o problema e suas repercussões na sociedade, até mesmo do ponto de vista de legislação de trânsito, além de permitir a identificação das suas principais causas. É a partir desse conhecimento mais amplo que poderão surgir modificações na abordagem de um paciente com sonolência excessiva, o que poderá finalmente resultar em diminuição do número de acidentes automobilísticos. 

Medidas para minimizar o problema

  • Os distúrbios do sono são um risco sério à saúde pública
  • É preciso haver mais pesquisas para se ter uma compreensão completa do sono e das causas dos distúrbios do sono
  • Deveria se colocar mais ênfase no diagnóstico e tratamento dos distúrbios do sono
  •  A maioria dos distúrbios do sono pode ser melhorada ao se mudar os comportamentos relacionados ao sono, através de terapêuticas médicas ou de terapia comportamentalcognitiva.
  • Os pacientes que sofrem de queixas de sono ou que sofrem de sonolência excessiva durante o dia deveriam ter acesso a um médico especialista em Medicina do Sono no sistema de saúde pública.