Cérebro. Fundasono revela que duas horas a menos de descanso prejudicam processamento de informação. Maior parte dos acidentes acontece em vias retas e próximo ao teste (Publicado no Jornal O Tempo - 17-12-2008)

A consequência de uma noite mal dormida pode se tornar um perigo tão iminente no trânsito quanto misturar álcool e volante. Estudos divulgados ontem pela Fundação Nacional do Sono (Fundasono) no I Seminário Brasileiro sobre Sono, Drogas e Trânsito em Belo Horizonte revelam que duas horas a menos de descanso aumentam em duas ou três vezes o tempo para o cérebro processar informação. E o mais curioso: os acidentes acontecem na maioria das vezes em vias retas e na proximidade do destino. "O condutor acha que está chegando, pode diminuir a atenção e acaba relaxando.

Com isso acaba dormindo e se acidenta", revelou o presidente da Fundasono, o médico psiquiatra Dirceu Valladares. Uma pesquisa feita com 460 motoristas em estradas federais que cortam o Estado mostrou que 20% dos entrevistados assumiram que já foram vítimas de acidentes. Desses, um terço confessou que o motivo da ocorrência estava no fato de terem cochilado enquanto dirigiam. "Esse tipo de ocorrência é comum nas estradas. São pessoas que querem sair mais cedo para pegar a estrada vazia e dormem quatro horas apenas. Ainda tem os motoristas de caminhão que querem fazer várias viagens para ganhar mais e acabam não agüentando", explica o inspetor Matheus Horta do núcleo de comunicação da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
 
Teste.

No final de junho deste ano, a Fundasono em parceria com a PRF fez o teste da Polissonografia em 15 motoristas durante uma blitze. O método consistia em avaliar o estado de sonolência dos condutores. O resultado mostrou que 46% apresentava estágio de sono não recomendado para condução de veículo. "No ano que vem vamos preparar uma coleta de dados com cerca de 3.000 pessoas. O olho é como se fosse um pedaço do cérebro exposto. É onde estão as informações", disse Valladares.
 
Transtornos perigosos
 
Os efeitos do sono e suas conseqüências são estudadas por outros países. No Canadá, por exemplo, um estudo sobre o assunto revela que os acidentes sobem 5% durante a primeira semana do horário de verão. Levantamentos da Fundação Nacional do Sono dos Estados Unidos mostram que os transtornos do sono são responsáveis por muitos acidentes nas estradas. A insônia aumenta em 250% o risco de acidentes e as apnéias e narcolepsias elevam esse risco para 700%. (Regina Werneck)
 
Medicamentos "proibidos"
 
Motoristas devem redobrar os cuidados no trânsito, caso utilizem os seguintes remédios:
 Anti-histamínico
ex.: Polaramine

Tranquilizantes
ex.: Fenotiazinas

Anfetaminas
ex.: Remédios consumidos para emagrecimento
 
Analgésicos
ex.: Codeína
 
Anti-distônico (Tipo de tranquilizante)
ex.: Diazepan

Acidentes
Cochilos assustam condutores

O taxista Josemar da Silva, 43, por pouco não morreu em um acidente de trânsito depois de passar uma noite em uma festa e pela manhã dirigir pela BR–381, sem dormir. Segundo Silva, ele saiu do município de Raul Soares, na Zona da Mata, em direção a Belo Horizonte. Já chegando à capital, ele afirma ter dormido com os olhos abertos. “Quando assustei, o carro já estava tombando”, contou. O vendedor João Luiz Viana, 27, passou por um susto na BR–262, indo para Guarapari (ES). Ele contou ter percebido o cochilo só depois de o carro sair da pista. (Andréa Silva)
 
Sorte

“Viajava sempre de Brasília para João Monlevade sem dormir. Quando o sono apertava, tomava Coca-Cola com café. Foi muita sorte não ter sofrido um acidente. Hoje não faço isso mais”
 Paulo Lúcio dos Santos 57, Comerciante

Lição
 
“Nós sempre achamos que as coisas só acontecem com os outros. Fiquei muito assustado quando sofri um acidente por ter dirigido sem dormir. Foi uma grande lição”. Josemar da Silva 43, Taxista
 
Publicado em: 17/12/2008 (Flávia Martins y Miguel)