Os seres humanos, assim como todos os animais, deve alimentar-se e descansar o suficiente para recuperar as energias e garantir uma vida saudável.
Texto-base para o Concurso de Redação promovido em 2008 pela FUNDASONO (Fundação Nacional do Sono), com apoio da Secretaria de Educação do Estado de Minas Gerais. Diretor Responsável: Dr. Dirceu Campos Valadares Netto, presidente da FUNDASONO. Jornalista Responsável: Eliza Peixoto (Reg. Prof. DRT/MG 2235 JP).
Dormir é mais que sonhar
Os seres humanos, assim como todos os animais, devem alimentar-se e descansar o suficiente para recuperar as energias e garantir uma vida saudável. Para assegurar sua sobrevivência, homens e animais sentem fome, sede e sono, desde que o mundo é mundo.
Fome, sede e sono são sinais emitidos pelo organismo de que está na hora de repor as energias, seja através dos alimentos, da água ou de uma boa noite de sono. Sim, dormir bem é tão essencial à vida quanto uma boa alimentação!
Não é à toa que nós, seres humanos, passamos aproximadamente um terço de nossas vidas dormindo. Isto não significa que todo o organismo esteja em repouso. Pelo contrário! Nosso cérebro – que não descansa nunca – está em ação, preparando o corpo para mais um dia.
Enquanto dormimos passamos por uma intensa atividade fisiológica e funcional. É a hora em que o cérebro coordena a produção de hormônios e de outras substâncias necessárias para nosso bom desempenho no trabalho, na escola, no lazer, enfim, em todas as atividades que realizamos no dia-a-dia.
O que é o sono?
É um estado ativo gerado por regiões específicas do cérebro. Nesse estado o organismo realiza atividades fundamentais para a saúde física e mental dos seres humanos. Durante o sono REM há uma elevação da freqüência de descargas dos neurônios, maiores do que quando se está acordado. Essas atividades fundamentais variam de acordo com as duas fases que compõem o sono: REM e NREM. E o que significam essas siglas?
“REM”
Estas são as iniciais das palavras em inglês Rapid Eye Movement ou Movimento Rápido dos Olhos. Nesta fase os olhos movimentam-se rapidamente, ainda que as pálpebras estejam fechadas. A atividade cerebral é intensa, igual a quando estamos acordados.
A primeira fase do sono REM ocorre de 70 a 90 minutos após a pessoa dormir e, geralmente, dura de 5 a 15 minutos. Em uma noite a pessoa passa por cerca de quatro ou cinco períodos de sono REM. Os primeiros períodos são mais curtos e vão alongando-se com a aproximação da madrugada. Nesta fase, o sono é mais leve e é quando temos a sensação de que os sonhos são mais “reais”.
“NREM”
Estas são as iniciais em inglês das palavras Non Rapid Eye Movement ou Ausência de Movimento Rápido dos Olhos, característica contrária à do sono REM. Dura 75% do tempo de nosso sono e caracteriza-se pela liberação do hormônio do crescimento em grandes quantidades. Nas pessoas já adultas, o hormônio do crescimento é responsável pela recuperação da energia física do nosso corpo.
Veja o que acontece enquanto você dorme:
Funções cardiovasculares
A pressão arterial diminui, chegando a seu mínimo na fase NREM. Durante o sono REM as freqüências cardíaca e respiratória sofrem variações.
Liberação de hormônios
1. As glândulas hipotálamo e hipófise são responsáveis pela união entre os processos de produção e liberação hormonais e o sono. Por exemplo, na infância cerca de 90% do hormônio do crescimento é liberado durante o sono. Crianças que têm dificuldade para dormir têm mais chance de ter problemas no seu desenvolvimento físico.
Para quem não está em fase de crescimento, esse hormônio atua garantindo maior disposição física e motivação para as atividades diárias. Contribui para a eliminação de gordura, redução da flacidez dos músculos e da fragilidade dos ossos. Portanto, o sono também age contra o envelhecimento e o desgaste do organismo.
2. Outro hormônio liberado durante o sono é a prolactina, que estimula o crescimento das glândulas mamárias e da produção de leite. O TSH (Hormônio Estimulante da Tireóide) também é liberado enquanto dormimose controla a atividade da tireóide, outra importante glândula.
3. O hormônio cortisol que, entre outras funções, é responsável por fazer as pessoas despertarem, tem seu pico de liberação no início da manhã. A privação do sono pode alterar o ritmo de sua liberação, gerando efeitos semelhantes aos causados pelo stress, como, por exemplo, a hiperatividade e a ansiedade.
Temperatura corporal
Durante o sono NREM a temperatura corporal é regulada automaticamente.
Memória
A pessoa que não dorme bem geralmente tem problemas para se lembrar de fatos e nomes de pessoas. Fica mais distraída e, às vezes, sente aquele “branco”, esquecendo-se de detalhes sobre o assunto do qual está falando. Por mais que tente, não consegue se lembrar. Isto porque o sono interfere na regulação térmica do cérebro, função fundamental para o desempenho dos mecanismos de memória. Tanto no sono REM como no NREM são consolidadas as memórias do que aconteceu durante o dia. Por exemplo, se você tem uma prova e estudou durante o dia, vai ter tudo isso gravado no cérebro durante o sono. Ou seja, se não dormir bem, terá dificuldades para se lembrar do que estudou no dia anterior, mesmo que “vire” a noite estudando as mesmas matérias.
Defesa do organismo
Durante o sono, o corpo libera os interleucinas, que são proteínas naturais importantes para a ativação dos linfócitos. Os linfócitos, por sua vez, são integrantes dos sistemas de defesa do corpo contra as bactérias e os vírus.
Apetite
O apetite equilibrado também está ligado ao sono. Quando se está dormindo é liberada uma grande quantidade de leptina, o hormônio que age principalmente no controle do apetite, no aumento do gasto energético e no metabolismo da glicose e das gorduras.
Males provocados pela privação do sono
Por tudo o que já foi dito até agora, vemos que desfrutar de um bom sono é essencial à saúde. Isto porque a falta de sono ou o sono não reparador compromete seriamente vários processos metabólicos fundamentais para o equilíbrio de todo o organismo a curto, a médio e longo prazo.
Quem dorme menos do que o necessário tem menor vigor físico, envelhece mais rapidamente, fica mais propenso a infecções, obesidade, hipertensão e diabetes.
Em um estudo realizado pela Universidade de Stanford, EUA, pessoas que não dormiam há 19 horas foram submetidos a testes de atenção. Constatou-se que eles cometeram mais erros do que pessoas com 0,8 g de álcool no sangue - quantidade equivalente a três doses de uísque!
Igualmente, tomografias computadorizadas do cérebro de jovens privados de sono mostraram redução do metabolismo nas regiões frontais do cérebro (responsáveis pela capacidade de planejar e de executar tarefas) e no cerebelo (responsável pela coordenação motora). Esse processo leva às deficiências na capacidade de aprender e alterações do humor, comprometendo a criatividade, a atenção, a memória e o equilíbrio.
A redução das horas de sono faz aumentar a probabilidade de desenvolver diabetes já que inibe a produção de insulina pelo pâncreas (a insulina é o hormônio que retira o excesso de açúcar do sangue). Além disso, eleva a quantidade de cortisol, o hormônio do estresse, que tem efeitos contrários aos da insulina, fazendo com que se eleve a taxa de glicose (açúcar) no sangue.
Primeiros sintomas
É na escola que os primeiros sintomas da falta de sono são percebidos. O desempenho cai e a criança ou o jovem estudante pode até ser equivocadamente diagnosticado como hiperativo, porque fica irritadiço e com dificuldade de concentração.
Como já dissemos, o que foi aprendido durante o dia é processado e armazenado, no cérebro, durante o sono. Quem dorme menos que o necessário, ou dorme mal, não consegue transformar em conhecimento que aprendeu.
Uma ou várias noites mal dormidas podem também ser responsáveis por acidentes de trabalho e de trânsito. Os reflexos e a atenção ficam reduzidos em quem não dorme o suficiente. Por exemplo, um pedreiro poderá facilmente se desequilibrar e cair de um andaime; um motorista causar sérios acidentes, provocando mortes e ferimentos graves em si e em outras pessoas. Um médico cirurgião poderá cometer um erro durante uma cirurgia e um estudante corre um maior risco de ser atropelado ao atravessar a rua com o sinal fechado. Tudo isso por estarem com a atenção e os reflexos comprometidos pela falta de sono.
Adolescentes, que passam grande parte da noite em frente ao computador, à televisão ou em festas constantes, podem sofrer de crises de mau humor e de irritação, dificultando a aprendizagem. Isto porque, certamente, vão cochilar durante as aulas não conseguindo prestar atenção no conteúdo explicado e assim não alcançando um bom desempenho nas provas. Além disso, podem entrar em desentendimentos banais com pais, irmãos e colegas, criando situações de conflitos muitas vezes violentas e desnecessárias.
Assim o sono insuficiente e não reparador trará graves conseqüências na vida adulta, porque a criança e o jovem não conseguiram dar o melhor de si enquanto cresciam.
Conseqüências da falta de sono a curto prazo
Cansaço e sonolência durante o dia, irritabilidade, alterações repentinas de humor, perda da memória de fatos recentes, comprometimento da criatividade, redução da capacidade de planejar e executar, lentidão do raciocínio, desatenção e dificuldade de concentração.
Conseqüências da falta de sono a longo prazo
Falta de vigor físico, envelhecimento precoce, diminuição da força muscular, comprometimento do sistema imunológico, perda crônica da memória, tendência a desenvolver obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e gastrointestinais.
O sono de cada um
Quantas horas precisamos de dormir?
Esta é uma característica de cada pessoa, ou seja, não é igual para todo mundo. Há quem necessite dormir mais e aqueles que dormem menos. Normalmente um adulto precisa dormir em torno de 8 horas por noite. Mas, mais importante do que a quantidade de horas dormidas, é a qualidade dessas horas. É preciso que o sono seja reparador, sem interrupções. Quando isso não ocorre com freqüência é sinal de que algo está errado e precisa ser corrigido para garantir a qualidade de vida e a segurança da pessoa.
Para crianças e adolescentes, é indicado um período entre 9 a 11 horas de sono. Quando isso não acontece acabam aparecendo muitos problemas, alguns são facilmente percebíveis, como a irritação, o nervosismo, o cochilo durante as aulas ou até mesmo durante outras atividades do dia. Outros problemas sentidos com mais dificuldade, como o prejuízo ao crescimento, ao aprendizado e a pré-disposição para doenças como diabetes, obesidade, etc.
Cada um deve preocupar-se com o próprio sono, verificar se está acordando descansado – ou não – se tem muito sono durante as aulas, ou nas atividades diárias, ou após o almoço. Percebido o problema, os pais, professores ou médicos especialistas em sono devem ser procurados porque a duração do sono é uma característica individual, mas a qualidade do sono é fundamental para uma vida saudável.
Afinal, como saber se dormimos bem?
É simples. Basta prestar atenção em você mesmo. Se você está sempre bem disposto durante o dia, no trabalho, na escola e nos momentos de lazer é sinal de que o seu sono é bom e está realmente repondo suas energias. Caso contrário é sinal de que algo está errado e precisa ser corrigido para garantir sua qualidade de vida e a segurança da pessoa.
Para corrigir eventuais problemas existe a Medicina do Sono que diagnostica e trata mais de 90 transtornos relacionados ao sono. Aliás, quais são esses transtornos? – Os mais comuns são o ronco, a insônia e a apnéia (perda prolongada da respiração enquanto se dorme). Estes transtornos causam um sono de qualidade ruim, podendo gerar acidentes de trânsito, mortes súbitas durante o sono, acidentes de trabalho, quedas no desempenho profissional, escolar e nas atividades do dia-a-dia.
Alguns desses distúrbios são simples e podem melhorar apenas com a mudança nos hábitos de sono, redução do estresse e do peso, práticas de exercícios físicos, alimentação saudável. Se não houver melhoras com as alterações de hábitos a indicação será procurar um médico especialista em sono. Por meio de consultas e exames específicos ele poderá diagnosticar e tratar estes transtornos.
Este concurso tem por finalidade contribuir para que os estudantes da rede pública de ensino do estado em Belo Horizonte se conscientizem da necessidade de prestar atenção ao próprio sono. Agindo assim poderão evitar problemas e terão agora e no futuro, mais saúde e mais qualidade de vida.